Muito bem: aqui estou. Pesando os prós e os contras, creio que tenha valido muito a pena ter feito essa grande aventura que, aliás, eu recomendo. Sou um mochileiro, gosto de me arriscar. Quem não largar tudo pra sair de casa, por medo, para mim é um fraco. Muita gente fala maravilhosamente bem de Caetité, mas se lhe fosse dada a oportunidade de sair de lá, não ficaria viva alma para contar a história. Não gosto de Caetité. Não vou mentir para vocês. Gosto das pessoas que lá residem, minha família, meus amigos, mas não gosto da cidade. Subir os degraus da República Coliseu e pegar fila com Rogério no supermercado era das coisas mais agradáveis que se podia fazer na cidade.
Na véspera de minha viagem, lembro-me de que Rogério me presenteou com Vestido de Noiva, a obra-prima rodriguiana e falamos um pouco desse místico Severino do Aracaju, do Auto da Compadecida. (Marco Nanini, na versão para o cinema). À noite, com as malas prontas, saí para comer pastel com Juliana e Eliana, minhas colegas. Rastros de poeira ficaram para traz.
Aqui, tive acesso a muitas coisas das quais necessito para sobreviver: dinheiro (óbvio), porque ninguém é obrigado a sofrer, livros, peças etc. Em Caetité, com toda a ruindade, descobri muita coisa interessante, acervos valiosíssimos. Em Sergipe também vim a descobrir novos autores, novas peças, assisti a muitos espetáculos (minha paixão), a maioria de bom nível. Li, por falar nisso, no domingo último, Um Bonde Chamado Desejo e encantei-me com a personalidade dúbia da personagem Blanche Dubois, irmã de Stella. Um texto fascinante de Tennessee, americano. (Uma Rua Chamada Pecado foi o título do filme baseado nesta peça, se não me engano. Rogério poderia confirmar), com Marlon Brando como Stanley. E assim vamos tocando a vida.
Diz Fiódor Dostoiévski que “o imbecil do homem se habitua a tudo”. Exatamente, amigos. Exatamente! Estou já acostumado à estupidez de Sergipe há muito tempo, tanto que nada aqui mais me impressiona. Educação, aqui, é artigo de luxo. Podem acreditar!
Todavia, o conhecimento, a cultura, as bibliotecas que o estado pode me proporcionar devem me levar a algum lugar, espero. Só não sei exatamente aonde. A São Paulo? A Madri?
Dois anos de ausência, voltando à terra natal em duas ocasiões, apenas. Nem sei se é motivo para comemoração.
Até breve!

Um comentário:
Confesso que tive mais sorte que você. Saí da minha pequena cidade natal aos 14 anos e não restou nenhuma parente na cidade, ou seja, nenhum motivo para voltar. E fui para Porto Alegre, onde morei por muito tempo. Depois de morar fora do RS por alguns anos, voltei justamente na época da Feira do Livro de Porto Alegre. Quando entrei no ônibus, um casal sentou ao meu lado e abriu todo satisfeito uma sacola repleta de livros comprados na feira. Pensei: "É, isso é o Rio Grande do Sul! Como é bom voltar!" :)
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